Chang Chao Tang - Visceral
- Pedro Antônio Heinrich
- Dec 30, 2016
- 4 min read
Chang Chao Tang - Visceral

A influência de Chang Chao-Tang se estende muito além de sua própria fotografia. Chang é creditado como sendo um mentor forte e curador de muitos jovens fotógrafos taiwaneses. Ele também escreveu e publicou uma impressionante série de ensaios e livros sobre fotografia taiwanesa.
Abaixo, uma entrevista transcrita feita pelo site "invisiblephotographer.asia":
VOCÊ COMEÇOU A FOTOGRAFAR MUITO NOVO DURANTE A ESCOLA SECUNDÁRIA DEPOIS DE PEGAR EMPRESTADA A CÂMERA DO SEU IRMÃO. COMO FOI ESSE APRENDIZADO?
Em 1958, a câmera do meu irmão me proporcionou uma desculpa para me divertir durante os fins de semana. Era um alívio de estresse muito necessário na minha vida agitada durante o período da escola. Não entendia, na época, se as minhas fotos eram boas ou ruins, então, muitos negativos foram descartados. Felizmente, eu mantive algumas impressões que foram digitalizados e arquivados.
VOCÊ ACHA QUE É IMPORTANTE AS PESSOAS ENTENDEREM O TRABALHO E OS MOTIVOS DO FOTÓGRAFO?
Provavelmente mais para fotografia contemporânea. No entanto, não é necessário para os outros gêneros. Às vezes, quanto mais entendemos, menos bons são os trabalhos.
VOCÊ TRABALHOU EM FOTOGRAFIAS POSADAS E FOTOGRAFIA ESPONTÂNEAS NA RUA. EXISTE UMA DIFERENÇA NA ABORDAGEM PARA VOCÊ EM TERMOS DE CRIAR A IMAGEM?
É a escolha entre objetividade e subjetividade. A decisão consciente de participar ou não como um mestre da encenação ou apenas um observador silencioso.

O FOTÓGRAFO DA MAGNUM CHANG CHIEN-CHI DISSE, EM UMA ENTREVISTA AO TAIPEI TIMES, QUE HÁ UM PERIGO MUITO GRANDE EM SER MUITO SUBJETIVO, PORQUE VOCÊ PODE SER MUITO ROTULADO. Quais são seus pensamentos sobre isso?
Há um excesso de ênfase na velocidade, resultando em uma atmosfera altamente competitiva. O individualismo logo toma conta e o estrelato acena. Todo mundo quer comandar o papel de protagonista, enquanto a vontade de fazer parte do elenco de apoio diminui. Mas é o contínuo desenvolvimento e acumulação de experiências que acabará por fortalecer a comunidade.

LHE FOI CONCEDIDO O 30º PRÊMIO NACIONAL CULTURAL EM 2011. COMO SE SENTIU AO RECEBER UM PRÊMIO CULTURAL IMPORTANTE COMO ESSE? E VOCÊ PENSA QUE SUAS IMAGENS REFLETEM A CULTURA E O ESPÍRITO DO POVO DE TAIWAN?
Eu ouvi a decisão do júri foi unânime e eu me senti muito honrado. Minhas imagens refletem minhas visões da vida e consciência cultural. As imagens são influenciadas pela sociedade diversificada de Taiwan, seus muitos rostos e as emoções invocadas.
TAMBÉM LHE FOI CONCEDIDO O PRÊMIO NACIONAL DAS ARTES EM 1999, E PELA PRIMEIRA VEZ FOI ADJUDICADO A UM FOTÓGRAFO. FOI UMA CONTROVÉRSIA? E COMO É VISTA A FOTOGRAFIA NA COMUNIDADE ARTÍSTICA DE TAIWAN?
Ouvi dizer que o júri não estava de acordo, mas a facção liberal e progressista reivindicou a vitória. Isso foi um encorajamento para a comunidade da fotografia.
A comunidade de fotografia de Taiwan é semelhante à de outros países, interessada na realidade, honestidade, beleza, paisagem e vida. Fotógrafos servem esses temas e ativamente expandem seus horizontes. Alguns fotógrafos abordam a fotografia como uma recreação. Alguns vêem a fotografia como um exercício técnico. Outros a abraçam como vida. Esta diversidade, no entanto, não ajuda ou facilita o intercâmbio de idéias e artesanato.

VOCÊ PENSA QUE OS GRANDES FOTÓGRAFOS OU ARTISTAS SÃO PESSOAS CONFLITUOSAS? QUE GRANDE TRABALHO PODE SAIR DE UM LUGAR AGITADO E CONFLITUOSO?
Os tempos turbulentos dão facilmente à luz a heróis, mas os heróis exigem talento, força de vontade e trabalho duro. Mesmo durante períodos de paz, a vida pode ser de perda e conflito.
EM SEU ENSAIO, VOCÊ DISSE QUE A FOTOGRAFIA É INTRUSIVA. PARA UM FOTÓGRAFO, A CÂMERA É UM MAL NECESSÁRIO.
Eu acho que só é possível ser mais humilde e expressar maior gratidão.
VOCÊ PODE NOS FALAR SOBRE A SUA OBSESSÃO COM O TEMA DO "TEMPO"?
Meu tema é "Vida". "Tempo" é secundário. Uma boa fotografia deve estar livre dos laços do tempo e do espaço. Assim, estou obcecado com os vários estágios da vida, sua prosperidade e declínio, seu crescimento e decadência.





VOCÊ TRABALHOU COM FOTOGRAFIA STILL E FOTOS DE MOVIMENTO. QUAIS SÃO AS DIFERENÇAS ENTRE AS DUAS E QUAL MAIS PREFERE?
Imagens em movimento são sobre linhas de tempo. Eles representam a força da continuidade. A fotografia é sobre um momento. É mais liberal, mais simples e independente. Assim, é mais difícil capturar um momento único, especialmente um com sentido ou imaginação.
EM SUAS MAIS RECENTES IMAGENS, VOCÊ FOTOGRAFOU EM CORES APÓS ANOS FOTOGRAFANDO EM PRETO & BRANCO. Por que você fez essa transição pra um mundo de cores tão difíceis?
As câmeras digitais são cor por padrão. Cor nunca foi um problema e eu não evito. Conteúdo, no entanto, é difícil.
PODE NOS DIZER SOBRE SEU PROCESSO DE EDITAR LIVROS DE FOTOS?
Começo selecionando as imagens apresentáveis. Então eu busco um equilíbrio de elementos, incluindo conteúdo, estilo, composição, iluminação e textura. O processo de harmonização é contínuo e laborioso. No entanto, eu ocasionalmente sentia erros editoriais de anos anteriores e senti que havia uma necessidade de alterá-los.

O CRÍTICO KUO LI-HSIN COMPAROU ALGUNS DE SEUS TRABALHOS A GARY WINOGRAND, ROBERT FRANK E LEE FRIEDLANDER. QUAIS SÃO SEUS PENSAMENTOS?
Eles são essencialmente três fotógrafos muito diferentes. Eu prefiro Robert Frank porque ele foi o mais antigo, o mais direto e o mais não convencional. Atemporal, refletindo grandes elementos artísticos, suas obras são altamente narrativas e profundas.
PODEMOS DIZER QUE VOCÊ TRABALHOU O SURREALISMO COMO UM MODO DE DISFARÇAR SUA IDEOLOGIA DURANTE O PERÍODO LONGO DE TAIWAN DE OPRESSÃO E CENSURA NA década de 1950 até 1980?
A escolha do absurdo e da abordagem surrealista reflete a ideologia e a opressão dos tempos. Meu imaginário serve como uma confissão da raiva e perda sentida pelos jovens dentro de uma política conservadora e entediada realidade política. Quero articular a própria essência da vida através de perguntas e dúvidas.
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